O cântico de Moisés

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Texto principal: Êxodo 15:1-21

Esse estudo é uma mensagem expositiva, do cântico que foi entoado por Moisés, logo após os filhos de Israel atravessarem o mar vermelho.

 

Versículo 1. “Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.”

 

“Cantarei ao Senhor, porque gloriosamente triunfou.”

Veja a intensidade do triunfo de Deus: o Senhor gloriosamente triunfou. Deus está muito acima das Suas criaturas, Ele está muito acima dos Seus inimigos, por isso a derrota deles é certa, Deus apenas permite a ação dos Seus inimigos, para cumprir através deles os Seus diversos propósitos, como está escrito: “o Senhor criou tudo com um propósito, até o ímpio para o dia do castigo” (Pv 16:4), então não faz sentido nós imaginarmos, que os inimigos oferecem uma oposição real ao poder de Deus, mas na verdade eles são servos de Deus, você pode ver isso em diversas passagens bíblicas, Deus usou a Assíria para castigar o Seu povo (Is 10:5-6), mais tarde usou a Babilônia (Jr 51:20), e aqui Deus estava usando os egípcios para manifestar através deles o Seu poder (Êx 9:16).

A Bíblia também nos mostra em diversas passagens, os triunfos de Deus sobre os Seus inimigos, e na cruz nós encontramos a maior obra revelada até hoje do triunfo de Deus, onde Cristo triunfou sobre os poderes e autoridades do mal, não com a força do Seu poder celestial, mas na fraqueza do corpo humano.

Os triunfos de Deus serão motivo de cânticos entre os santos por toda a eternidade, por isso lá em Apocalipse fala que aqueles que vencerem a besta, irão receber harpas que vão ser entregues pelo próprio Deus, e cantarão o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro dizendo: “Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações.” (Ap 15:3)

 

“Lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.”

A vitória de Deus é completa, Ele destrói a arma e também destrói o adversário, Moisés mesmo havia dito ao povo: “Não temais, pois os egípcios que hoje vistes, nunca mais tornareis a ver”.

A Bíblia nos assegura que todos os males que enfrentamos aqui na terra, serão completamente destruídos por Deus, ou seja, tudo aquilo que nos causa medo, tristeza e preocupações será totalmente destruído, e o que causa maior tristeza e sofrimento ao cristão senão o próprio pecado?

O pecado em si é pior do que o próprio diabo, pois contra o diabo a Bíblia fala que devemos resisti-lo e ele fugirá de nós, mas contra o pecado a Bíblia fala que devemos fugir das paixões da mocidade (2 Tm 2:22), fugir da imoralidade sexual (1 Co 6:18), fugir da idolatria (1 Co 10:14).

 

Versículo 2. “O Senhor é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.”

 

“O Senhor é a minha força, e o meu cântico.” (Sl 118:14)

Aqui nós podemos refletir sobre a nossa completa dependência de Deus, e a completa satisfação que encontramos nEle.

Porém nós só passamos a buscar a força no Senhor com mais persistência, quando entendemos a completa dependência que temos de Deus.

Nós dependemos completamente dEle, e podemos ver isso de diversas maneiras: sem Cristo nada podemos fazer (Jo 15:5), os dons que possuímos não provém de nós mesmos mas recebemos de Deus (1 Co 4:7), os nossos inimigos são muito mais fortes do que nós (Sl 18:17), é Ele quem gera em nós tanto o querer, como nos ajuda a efetuarmos a sua vontade (Fp 2:13), e por mais que façamos mais do que outras pessoas, todavia não somos nós quem realizamos, mas sim a graça de Deus que está em nós (1 Co 15:10).

Moisés também fala que Deus é o nosso cântico, ou seja Deus é comparado a algo belo como uma canção, isso é como dizermos que Ele é o que nos motiva a cantar, ou seja, Ele é a nossa alegria.

E pensando sobre o nível de alegria que alguma coisa, ou alguma criatura pode nos trazer, nós podemos chegar a conclusão, que a alegria do cristão é muito maior do que a alegria dos ímpios:

1. A alegria do cristão é mais intensa (Sl 4:7), pois assim como Deus é infinitamente superior as criaturas, assim a alegria proporcionada por Ele é muito superior do que as criaturas podem proporcionar.

2. A alegria do cristão é mais duradoura (Jó 20:4-5), pois a terra e o céu serão destruídos, mas Deus permanecerá para sempre, e assim a alegria dEle também permanecerá em nós para sempre, e a nossa felicidade será completa (Jo 15:11 ARC).

3. Em Deus todas as necessidades e desejos da nossa alma são completamente satisfeitos, eu vou citar só dois exemplos, mas eu poderia citar muitos outros também, afinal a única coisa grande em nós são as nossas limitações, nós temos grandes limitações, mas Deus é grande em toda a Sua perfeição.

Deus proporciona ao homem a alegria da salvação (Sl 51:12), ou seja a alegria de ter sido livre de um mal tão grande quanto o pecado e a condenação eterna, e a alegria que vem da esperança, de um dia sermos completamente aperfeiçoados.

Além disso Deus sacia o desejo pela eternidade do coração do homem (Ec 3:11), ou seja o homem possui o desejo por aquilo que é eterno, e também o desejo de se tornar eterno, e isso se vê claramente na humanidade, pois muitos querem viver até uma boa velhice, outros querem rejuvenescer a aparência, enquanto outros querem ser lembrados pelas futuras gerações, tudo isso mostra o desejo pela eternidade que existe no coração do homem, mas Jesus veio para saciar realmente esse desejo, Ele veio para que tenhamos vida, e vida com abundância, e para que todo aquele que crê no Filho tenha a vida eterna, e ainda que esteja morto viverá.

 

“Ele me foi por salvação.”

É muito importante reconhecermos aquilo que Deus fez por nós, a Bíblia mesmo fala, como escaparemos se negligenciarmos tão grande salvação? (Hb 2:3). O povo de Israel mais tarde negligenciou essa salvação, e nos seus corações muitos voltaram para terra do Egito, por isso ficaram prostrados no deserto.

Quando atentamos para a grande salvação que Deus realizou em nós, isso deve gerar em nossos corações: O desejo de nunca voltarmos para o estado em que nos encontrávamos, gratidão pelo que Deus fez, grande alegria pelo livramento recebido, força para vivermos uma vida inteira de piedade.

 

“Este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação”

Aqui Moisés expressa o seu desejo de servir a Deus. E veja que o desejo de servir a Deus não deve estar relacionado aquilo que Deus pode fazer, mas sim pelo que Ele É, Ele é o meu Deus portanto lhe farei uma habitação.

Quem serve a Deus só pelo que Ele faz na verdade está apenas servindo a si mesmo, mas mesmo se nós fossemos adorar a Deus só pelo que Ele faz, ainda sim nós sempre teríamos que adora-lo porque não podemos pagar tudo aquilo que Deus já fez por nós.

Perceba que Moisés não fala que faria um templo para Deus, mas que faria uma habitação, ou seja, Deus não quer apenas ser adorado no templo, mas Ele deseja habitar nos corações do Seu povo, Deus deseja mais do que somente atos exteriores de adoração.

 

“Ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.”

Moisés exalta Deus, porque Ele é o Deus de seu pai. Quem dera todas as crianças pudessem ter uma educação cristã, pois essa é a melhor coisa que alguém pode herdar dos seus pais. Não tem nenhum conhecimento mais excelente, do que as sagradas letras, que podem te tornar sábio para a salvação.

 

Versículo 3. “O Senhor é varão de guerra; o Senhor é o seu nome.”

 

Essa é a primeira vez que isso aparece na Bíblia: o Senhor é varão de guerra. Moisés havia dito anteriormente: O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis, e foi exatamente o que aconteceu, Deus pelejou pelo povo, e eles não tiveram que levantar uma espada nem um escudo sequer.

Porém como pode um Deus bom ser associado a algo negativo como a guerra? Mas exatamente por Ele ser bom, Deus luta contra o mal que se levanta contra a humanidade e contra o Seu povo. O general Sun Tzu fala no seu livro a arte da guerra, que “o verdadeiro objetivo da guerra é a paz”, e realmente quem luta busca trazer a paz para si e para o seu povo, mesmo que esteja lutando para defender propósitos errados, mas Deus está interessado no absoluto bem das Suas criaturas, Ele está sempre lutando ao nosso favor, mas nós muitas vezes podemos nos encontrar lutando contra a vontade de Deus e trazendo prejuízo para nós mesmos (Jr 7:19).

 

Versículo 4. “Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos príncipes afogaram-se no Mar Vermelho.”

 

Deus lançou no mar Faraó e o seu exército, e os seus príncipes escolhidos, e não era um exército qualquer, mas talvez o exército mais poderoso daquela época. Isso nos mostra que todos os esforços humanos não são nada diante de Deus.

Joseph Benson comenta que o exército de Faraó era muito numeroso, e caso o povo de Israel lutasse seria necessário muitíssimas horas para destrui-los, talvez até mais de um dia, mas Deus destruiu a todos com apenas um golpe, afinal nós vemos que foi Deus quem arquitetou esse plano de atrai-los até o mar vermelho (Êx 14:2-4).

 

Versículo 5. “Os abismos os cobriram; desceram às profundezas como pedra.”

 

Realmente é terrível a destruição dos inimigos de Deus, eles são cobertos pelos abismos, e eles afundam como pedra nas águas, representando o seu esquecimento, derrota completa, e humilhação ao baixarem até as profundezas (Jr 51:63-64) (Ap 18:21).

 

Versículo 6. “A tua destra, ó Senhor, se tem glorificado em poder, a tua destra, ó Senhor, tem despedaçado o inimigo;”

 

Veja como a destruição dos maus glorifica o poder da destra de Deus. Nós fomos criados para glorificar a Deus, e mesmo se não quisermos fazer isso voluntariamente, ainda sim iremos fazer de qualquer maneira. Até mesmo os maiores inimigos, são servos de Deus para o proveito dos santos, Paulo também fala que até as suas prisões contribuíram para maior proveito do evangelho (Fp 1:12).

Mas então Deus é um ser autoritário que obriga todos a Lhe servirem, e ameaça com o inferno aqueles que não fizerem? Na verdade a tendência do homem natural é exatamente essa, tentar fazer Deus parecer mal, e nós parecermos bons aos nossos próprios olhos, ou nos vitimizarmos. John Piper comenta sobre isso, e fala que se nós só encontramos a completa felicidade no criador, então Deus é inteiramente bom ao se revelar, se magnificar, e reivindicar que encontremos nEle a nossa fonte de alegria eterna.

E sim, Deus se alegra que as Suas criaturas venham louva-lo, mas Deus não necessita do nosso louvor, pois Ele não é servido por mãos de homens como se precisasse de algo (leia também Jó 22:2-5), isso nos leva a refletirmos que na verdade, nós é quem somos mais beneficiados quando louvamos a Deus.

 

Versículo 7. “E com a grandeza da tua excelência derrubaste aos que se levantaram contra ti; enviaste o teu furor, que os consumiu como o restolho.”

 

“E com a grandeza da tua excelência derrubaste aos que se levantaram contra ti.”

A própria grandeza da excelência de Deus destrói os Seus inimigos, pois eles não podem resistir diante da santidade, justiça e verdade de Deus.

Quando algo profano entra em contato com algo santo, ou acaba profanando ou é santificado, mas as vezes também pode ser destruído pelo que é santo. Da mesma forma a justiça condena a injustiça, aplicando uma punição adequada na mesma medida do mal cometido (Cl 3:25). Já a mentira, que é usada por muitos como uma maneira de sobressair diante de situações difíceis, ou de obter vantagem, essa mesma mentira, traz consigo confusão, desordem, insegurança, fere a honra das pessoas, porém é completamente destruída quando a verdade é revelada.


“Enviaste o teu furor, que os consumiu como o restolho.”

O objeto que causa a destruição é o furor de Deus, já a palavra consumir demonstra aqui uma destruição completa, além disso vemos que a destruição dos inimigos de Deus é rápida, assim como a palha é facilmente queimada pelo fogo.

A ira de Deus também serve para nos ensinar a reverencia-lo da maneira correta, ela nos mostra que o pecado realmente não vale a pena, pois o prazer do pecado é momentâneo, e a Sua consequência é tão amarga, que fará as pessoas até odiarem aquilo que antes lhes trazia prazer.

 

Versículo 8. “E com o sopro de tuas narinas amontoaram-se as águas, as correntes pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar.”

 

Como seria maravilhoso se todos nós pudéssemos ter visto um milagre tão grande como esse, um mar profundo dividido no meio como grandes paredes de águas, paredes do tamanho de um prédio de muitos andares.

 

Versículo 9. “O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; fartar-se-á a minha alma deles, arrancarei a minha espada, a minha mão os destruirá.”

 

Aqui o inimigo parece se ensoberbecer, e fala como se a vitória já estivesse garantida, mas no próximo versículo eles são abatidos, e descem até as profundezas como chumbo.

Anteriormente Faraó havia tentado negociar de diversas maneiras com Moisés, Faraó propôs que o povo fosse e servisse a Deus sem sair do Egito (Êx 8:25), depois propôs que saíssem do Egito mas não fossem muito longe (Êx 8:28), também propôs que eles saíssem mas deixassem seus filhos (Êx 10:10-11), e por fim propôs que eles saíssem mas deixassem seus rebanhos (Êx 10:24), mas Moisés responde que nem uma unha havia de ficar (Êx 10:26), e agora nós vemos que Faraó persegue o povo para tentar traze-los como escravos novamente (Êx 14:5).

Dessa mesma maneira o inimigo das nossas almas busca de impedir aqueles que saem do seu domínio, e uma das principais armas que ele usa é justamente a insistência. Um exemplo disso é o relato da tentação de Jesus no deserto, logo após o diabo ter sido derrotado, a Bíblia fala que ele ausentou-se de Jesus, mas apenas por algum tempo (Lc 4:13), assim também acontece conosco, logo após termos vencido uma tentação, devemos estar preparados pois ela poderá retornar em algum momento.

O inimigo utiliza de insistência porque algumas vezes, apesar dos homens vencerem a tentação, ainda sim eles acabam deixando ela avançar e tomar mais espaço nos seus corações, e assim o adversário vai corrompendo os homens aos poucos, até que em certo momento eles não ofereçam mais resistência ao pecado.

Mas de outro lado, um dos melhores remédios que temos para vencermos a tentação, é entendermos que todo pecado traz consigo uma consequência, quando passamos a entender as consequências que certos pecados podem nos trazer, então eles se tornam ainda mais amargos e detestáveis ao nosso coração.

Moisés também expressa nesse cântico que o inimigo desejava repartir os despojos, e fartar a sua alma por meio do povo de Deus, ou seja, os nossos inimigos se alimentam em causar destruição ao ser humano, eles assim como muitos homens caídos, se alimentam do próprio pecado (Pv 19:28), e bebem a iniquidade como água (Jó 15:16), por isso nós devemos vigiar para que não venhamos alimentar os nossos inimigos, permitindo que eles se fortaleçam e prevaleçam sobre nossas vidas, mas devemos fazer como o rei Ezequias, que quando soube que Senaqueribe vinha para cercar Jerusalém, então ele tapou as fontes das águas que havia fora da cidade, impedindo que o inimigo se saciasse daquelas águas, pois o povo dizia: “por que viriam os reis da Assíria, e achariam tantas águas?” (2 Cr 32:4).

 

Versículo 10. “Sopraste com o teu vento, o mar os cobriu; afundaram-se como chumbo em veementes águas.”

 

Aqui os inimigos de Deus descem como chumbo até as profundezas, provavelmente a força das paredes das águas se desfazendo, fez com que Faraó e seu exército afundassem sem poder resistir, e assim como o chumbo afunda rapidamente quando é lançado nas águas, da mesma forma os inimigos de Deus são abatidos rapidamente, e a sua soberba dura só um pouco de tempo.

A Bíblia mesmo fala em Apocalipse 12:12 “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vocês, cheio de fúria, sabendo que pouco tempo lhe resta.”. A mensagem de que o inimigo das nossas almas será destruído em breve, traz tanto um alerta, de que ele procura investir com muito mais ímpeto contra nós, mas também traz o alívio de que ele possui pouco tempo para agir.

Apesar de tudo não devemos ignorar os desígnios do inimigo, para que ele não alcance vantagem sobre nós (2 co 2:11). Algumas vezes Deus permite o inimigo agir para que venha provar a nossa fé, porém na maioria das vezes ele não terá permissão para agir nas nossas vidas, a não ser que nós dermos essa permissão cometendo pecado, então a grande investida do inimigo contra nós é para tentar nos fazer pecar, mas palavra de Deus fala, que aquele que é nascido de Deus não vive em pecado, mas conserva-se a si mesmo e o maligno não lhe toca (1 Jo 5:18).

 

Versículo 11. “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?”

 

“Ó Senhor quem é como tu entre os deuses?”

O povo havia saído de uma terra repleta de idolatria, mas Deus mostrou a Sua soberania envergonhando todas divindades do Egito.

Podemos ver que nenhuma divindade do Egito pode fazer as grandes coisas que Deus fez, os magos de Faraó até puderam imitar alguns sinais de Moisés, mas logo eles mostraram que estavam limitados em sua atuação, e assim Deus revelou o seu grande poder ao povo daquela época, e mais tarde revelou através de Moisés que foi somente Deus quem criou o sol, a terra, o céu, o mar, e todas as outras coisas no princípio, ou seja, muitos dos deuses que os egípcios cultuavam, eram na verdade apenas parte da criação do Deus Altíssimo.

Também vemos que as divindades do Egito não puderam livrar o seu povo, pois as pragas atingiram desde o servo até o rei, porém o povo de Israel foi preservado e libertado por Deus, como diz em Daniel 3:29 “não há outro deus que possa livrar como este”. Realmente parece inútil clamar a um deus que não pode dar nenhum livramento, e assim Deus usa as dificuldades, para revelar que esses falsos deuses são ineficazes, a palavra de Deus fala em diversas passagens que eles não veem, não ouvem, e são de nenhum de proveito (Hc 2:18-20), e se é que eles podem fazer alguma coisa, são prodígios e sinais de mentira, para escravizar aqueles que os servem.

Além disso nós vemos que tudo isso foi um plano de Deus para mostrar o seu poder e engrandecer o Seu nome diante de toda a terra, a Sua palavra mesmo declara que depois dEle nenhum outro deus haverá (Is 43:10). Deus poderia ter libertado o Seu povo de diversas maneiras, e até poderia ter feito isso de uma maneira muito mais simples, mas nós vemos que no Seu eterno propósito Ele determinou fazer isso através de uma grande manifestação de poder, pois não se tratava apenas da libertação do povo de Israel, mas como Deus havia declarado a Abraão, Ele também iria trazer julgamento sobre a nação que viesse a escravizar Israel (Gn 15:13-14), isso porque os egípcios haviam se tornado como um instrumento nas mãos do inimigo, chegando até mesmo a matar as crianças recém-nascidas, daquele povo que havia recebido as promessas de Deus, o povo cuja descendência viria o Messias.

 

“Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?”

Agora Moisés começa a descrever algumas características de Deus.

 

I. Glorificado em santidade.

Santo é aquilo que é essencialmente puro, aquilo que é perfeito, aquilo que é magnífico, mas quando se trata de Deus, sabemos que a Sua santidade está infinitamente acima de qualquer criatura, muito acima até do que podemos compreender.

A Bíblia fala que nem os céus são puros aos olhos de Deus, quanto mais o homem que bebe a iniquidade como água (Jó 15:15-16), não que os céus estejam contaminados pelo pecado, mas eles não parecem ser tão puros quando comparados a santidade perfeita de Deus, porém o ser humano nem chega a ser tão puro quanto os céus, e as vezes se torna até pior do que os próprios animais.

A santidade de Deus é tão grande que ela não pode ser manchada pelo pecado, mas tudo que Deus toca ou se torna puro ou é consumido por Ele. A Bíblia nos ensina que os objetos que se tornassem impuros, deveriam ser quebrados caso fossem vasos de barro (Lv 15:12), ou poderiam ser lavados com água caso fossem de algum outro material (Lv 11:32), ou até purificados com fogo caso fossem de ouro, prata, cobre e outros materiais que resistem ao fogo (Nm 31:22-23), e da mesma maneira, Deus irá separar a cada um dos homens, tanto os vasos de barro como os que são de metal precioso, e irá provar a humanidade, porém os pecadores não poderão resistir diante da santidade de Deus, e serão consumidos pelo fogo.

 

II. Admirável em louvores.

Outra tradução também diz: terrível em louvores, ou seja, a santidade de Deus leva o homem a ficar admirado, perplexo, e até mesmo atemorizado, porque além dela mostrar o quanto somos imperfeitos, ela também tem poder para aniquilar o pecado.

Na Bíblia nós temos muitos exemplos, de pessoas que contemplaram a santidade de Deus, Isaías quando viu o Senhor exclamou: "ai de mim que vou perecendo, porque sou um homem de lábios impuros". Pedro logo após ter visto Jesus realizar o milagre da pesca maravilhosa, disse: "Senhor retira-te de mim porque sou pecador". E Jó quando viu a Deus falou: "eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem, por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza".

 

III. Realizando maravilhas.

As maravilhas que Deus realiza são um dos meios que revelam a Sua magnificência e santidade, e nós vemos que as maravilhas que Deus operava naquela época, não eram curas, ou multiplicação de pães, mas eram juízos sobre o povo do Egito, e de todas as maravilhas de Deus, quer sejam as maravilhas da criação, ou os milagres que Deus realiza, nenhuma delas revela com tanta propriedade a santidade de Deus, assim como os Seus juízos.

Os milagres ou maravilhas podem visar diversos propósitos, 1. Em relação ao povo de Deus: buscam a edificação do Seu povo, 2. Em relação aos ímpios: levam as pessoas a crerem, e 3. Em relação a Deus: glorificam a Deus, esses são alguns exemplos, dentre muitos outros que existem.


Versículo 12. “Estendeste a tua mão direita; a terra os tragou.”

 

A terra os tragou, aqui você vê que toda a natureza é contrária aos inimigos de Deus, por isso eles não prosperam nos seus caminhos, o sol não tem prazer em brilhar sobre os ímpios, a própria terra não tem prazer em dar o seu fruto agradável a eles.

 

Versículo 13. “Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.”

 

“Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste”

Deus não apenas salvou o povo, mas também guiou eles com a Sua beneficência. Dificilmente houve um povo tão favorecido por Deus quanto esse, mesmo assim eles não reconheceram a bondade de Deus.

Da mesma forma, nós podemos ver a beneficência de Deus em tudo nas nossas vidas, mas precisamos aprender a estarmos satisfeitos com aquilo que temos, pois um dos primeiros passos para a felicidade é a gratidão, quem não é grato por aquilo que tem, acaba se sentindo infeliz mesmo tendo todas as coisas.


“Com a tua força o levaste à habitação da tua santidade.”

Em outra tradução também diz: levaste à tua santa habitação, e nós vemos que esse era o desejo de Deus, resgatar o povo e trazer para junto de Si, mas para isso eles teriam que deixar os costumes do Egito.

E foram muitos motivos que impediram o povo de entrar na terra prometida, a idolatria, a murmuração, a incredulidade, a rebelião, a prostituição, e o que mais nos admira é que eles fizeram tudo isso, mesmo estando diante da manifestação visível de Deus. Nem mesmo a manifestação dos milagres, a revelação da lei por meio de Moisés, ou a presença real de Deus sobre o tabernáculo, nada disso intimidou o coração obstinado de muitos daquele povo.

 

Versículo 14. “Os povos o ouviram, eles estremeceram, uma dor apoderou-se dos habitantes da Filístia.”

Versículo 15. “Então os príncipes de Edom se pasmaram; dos poderosos dos moabitas apoderou-se um tremor; derreteram-se todos os habitantes de Canaã.”

Versículo 16. “Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó Senhor, até que passasse este povo que adquiriste.”

 

Moisés descreve de muitas maneiras o espanto dos moradores de Canaã, eles estremecendo, sofrendo dores, se derretendo, ficando mudos. Aqui nós vemos que é grande o sofrimento dos inimigos de Deus, eles sofrem os castigos da justiça Divina, e também sofrem antecipadamente uma terrível expectação de juízo, e ardor de fogo que há de devorar os adversários (Hb 10:27)

 

Versículo 17. “Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó Senhor, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as tuas mãos estabeleceram.”

 

Aqui nós vemos que Deus iria introduzi-los e planta-los no monte da Sua herança, ou seja, estar plantado no monte representa segurança, representa permanência, já o monte representa um lugar alto e privilegiado. Um dos melhores simbolismos que podemos tratar, a respeito de uma planta, é a sua vitalidade, pois mesmo que seja cortado o tronco de uma árvore, ela ainda pode brotar de novo e até dar frutos (Jó 14:7-9), e dessa mesma forma é todo aquele que está plantado em Deus.

Então Moisés continua descrevendo esse lugar: é o lugar que Deus aparelhou para Sua habitação, o santuário que as Suas próprias mãos estabeleceram. Mais tarde o povo preparou um tabernáculo para servirem a Deus, mas aqui Moisés já nos traz a ideia, de que o próprio Deus é que um dia irá preparar um tabernáculo, para habitar junto dos homens (Ap 21:3), e se os homens puderam construir templos tão excelentes, e tão adornados de materiais preciosos para honrar o nome de Deus, quanto mais grandioso deve ser esse templo construído pelas mãos do próprio Deus, o seu ouro é um ouro incorruptível semelhante ao vidro mais puro, as pedras preciosas são de um esplendor nunca visto antes na terra, o seu rio é tão límpido como o próprio cristal.

 

Versículo 18. “O Senhor reinará eterna e perpetuamente;”

 

Essa é uma das notas mais belas da melodia de Moisés, a segurança do reinado eterno e perpétuo do Senhor. Não é só um reinado de duração eterna, mas também é um reinado de duração perpétua, ou seja, é um reinado incessante.

E qual a sua abrangência? O Seu reinado abrange a terra, os céus, e até os abismos. Abrange todas as coisas possíveis, e até as impossíveis. Abrange a fartura e a dificuldade, a dor e a cura, a tristeza e o júbilo, todas essas coisas são governadas por Deus e cumprem o Seu propósito.

Por isso em todos os momentos da nossa vida, tanto nas vitórias como nas dificuldades, nós podemos cantar esse cântico. Esse cântico é como um travesseiro de plumas, onde uma cabeça cansada e afadigada pelas preocupações da vida pode descansar: O Senhor reinará eterna e perpetuamente (o Senhor está no controle de tudo).

 

Versículo 19. “Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus cavaleiros, entraram no mar, e o Senhor fez tornar as águas do mar sobre eles; mas os filhos de Israel passaram em seco pelo meio do mar.”

 

Nessa última frase do cântico, Moisés compara a destruição do exército de Faraó, em vista da preservação do povo de Israel. Os inimigos até parecem prosperar nos seus caminhos, as vezes até parecem estar em vantagem sobre o povo de Deus, pois o exército de Faraó era muito mais forte do que os filhos de Israel, mas então Faraó e seu exército são esmagados pelas águas, e são destruídos no mais profundo abismo do mar, porém o povo de Deus passa com seus pés em seco pelo meio do mar, então veja como é grande o livramento que Deus concede, pois aquelas águas que feriram os inimigos não tocaram nem sequer nos pés do povo de Deus.

 

Versículo 20. “Então Miriã, a profetisa, a irmã de Arão, tomou o tamborim na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças.”

Versículo 21. “E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.”

 

Amém, Deus abençoe irmãos.


** Imagem do filme Os Dez Mandamentos 1956.

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